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SXSW 2019: as 3 coisas mais importantes que realmente aprendi

por Adriana Farhat

Quase um mês após o fim desse evento incrível que é o South by Southwest, tive que passar um tempo absorvendo e revisitando todo o conteúdo a que fomos expostos, num período tão curto de tempo. Sim, dez dias, para a quantidade apresentada de assunto, é pouco tempo!

E depois de assimilar tudo (ou ao menos tentar), separei as informações em três categorias: aquilo de que ouvi falar, aquilo que vi e o que realmente aprendi.

Por que essa separação? Vou te dar alguns números do South by (apelido carinhoso e preguiçoso do evento rs) e você me diz se é possível realmente aprender sobre tudo o que se passa por lá:

– Mais de 2 mil palestras

– Mais de 5 mil palestrantes

– Quase 700 festas/shows/ativações de marca

– Média de 50 eventos ao mesmo tempo.

Sei que FOMO (fear of missing out) é uma expressão bem batida e presente em todos os comentários que li antes, durante e depois do evento. Realmente, nos primeiros dias principalmente, dá um leve desespero de estar perdendo alguma coisa muito interessante enquanto fazemos as nossas escolhas de palestras, ativações, filmes, etc. É muita coisa ao mesmo tempo – mesmo.

Mas logo uma outra expressão ainda não tão usada, JOMO (joy of missing out), toma conta e percebo como é importante fazer as escolhas que nos deixam felizes, que saciam a nossa curiosidade, que vão ao encontro com o que realmente gostaríamos de saber e experimentar. Não fomos até lá pra “dizer que fomos”. Fomos pra estar presentes e viver o SXSW.

E quero compartilhar alguns aprendizados reais, dentre tantos que trouxe de lá:

1.     Autenticidade e Pertencimento.

Palavras difíceis para atitudes difíceis também. Mas posso garantir que quando você se liberta, são sensações incríveis. Tive a felicidade (e a sorte) de poder estar na abertura da Brené Brown e já ser a segunda vez em que a assisto pessoalmente. E também em Austin! Na primeira ocasião estava em outro evento, o Work Human, minha primeira vez na cidade. Me apaixonei rápido. Mas sabemos que isso não é raro.

Voltando à Brené, quando ela fala sobre vulnerabilidade e coragem, tudo aquilo que aprendemos desde sempre até ouvirmos o que ela tem a dizer, simplesmente desmorona. Eu já tinha aprendido preciosidades da primeira vez e quando cheguei para vê-la este ano, sabia que iria aprender ainda mais. Estava ansiosa!

Quando ela começa sua fala e mostra a diferença entre se encaixar e realmente pertencer, tudo faz sentido. Você não pertence a nada se não for verdadeiro com você mesmo, se não mantiver sua autenticidade. Parar de ser aquilo que você acha que os outros acham que você deve ser. No trabalho, na família, na roda de amigos, no clube, na faculdade.

Traduzindo uma frase dela de forma livre, saí com esta inspiração e quando vem alguma dúvida, relembro: “o verdadeiro pertencer não requer que você mude quem é; mas que você seja quem é”.

 

2.     Networking é bom, mas fazer conexões de verdade, é excelente. 

O tópico é outro, mas no fundo, o tema é o mesmo. Pra fazer conexões de verdade é preciso estar aberto a falar de seus medos, de suas dúvidas, de suas crenças e convicções. Isso é vulnerabilidade. E isso é ser autêntico. Senão, é só juntar cartões de visita pra levar de volta pro escritório. O que pode ser o objetivo de alguns. Sem julgamentos. Mas já que o texto é meu (rs), quero dizer que a qualidade das conexões, pra mim, fizeram toda a diferença. As pessoas que se conhece neste lugar dão o tom de como a sua vivência será e quanto mais conectadas, de verdade, elas estiverem, melhor esta experiência será.

Ainda, sabendo que a conexão é o porquê de estarmos aqui, pro significado e propósito de vida, temos que realmente nos fazer ver. Mas não aparecer e sair por aí falando besteira pra ser notado. Neste momento, vemos que somente a vulnerabilidade mostra quem somos de verdade (não confunda com fraqueza) e aí as conexões se permitem acontecer.

E dessas conexões nascem projetos, ideias compartilhadas, planos para o futuro. Tudo isso de forma natural, como consequência deste fenômeno. E é maravilhoso.

E um outro efeito, agora mais engraçado, de como eventos desta natureza nos deixam mais perto de pessoas “inalcançáveis”. Na fila de uma hora para assistir Michael Pollan todo mundo é igual, né? O perrengue de correr entre uma e outra palestra marcada na agenda é o mesmo pra todos, de CEOs a estagiários. Nos aproxima. Por algumas horas, alguns dias, somos todos alunos ávidos por novidade, por aprendizado, por evolução.

 

3.    Nothing about us, without us.

Numa tradução bem livre, este lema diz: “nada sobre nós, sem nós”, ou seja, na sua origem política da Europa Central, o slogan afirmava que nenhuma política, lei, etc., deveria ser criada ou decidida sem que houvesse uma participação total e direta do público que seria afetado.

O termo foi mais recentemente usado nos anos 90, pelo ativismo dos deficientes na África do Sul, que depois virou nome de livros.

Trazendo para a realidade do SXSW, assisti palestras que mostraram como as marcas, empresas, organizações em geral irão falhar em desenhar, propor, criar produtos e soluções para pessoas com deficiência se não se aproximarem deste público – que inclusive é a minoria mais representativa do mundo, você sabia? – para que realmente capturem suas necessidades e anseios. E quando realmente prestam atenção e se esforçam, que transformação linda proporcionam.

Preciso falar de pelo menos uma destas palestras emocionantes e inspiradoras que assisti. Vou escolher a que mostrou como os designs adaptados estão mudando as marcas, no mundo da moda.

Um painel riquíssimo com a atleta paralímpica Scout Bassett, com a empresa Zappos Adaptive (braço específico para adaptabilidade da gigante Zappos), com a Ottobock (empresa de aparelhos médicos para deficientes) e com a incrível Mindy Scheier, fundadora do projeto Runway of Dreams, quem eu gostaria de destacar diante desse time de estrelas que pude conhecer nesta oportunidade.

O filho de Mindy tem uma doença degenerativa nos músculos, que o impede de se vestir da mesma forma que eu me visto, por exemplo, sem nenhuma dificuldade. E ela, como mãe e profissional do mundo da moda, não se conformou em ver seu filho ter que usar calças de moletom para simplesmente todas as ocasiões, já que botões e zíperes eram verdadeiros vilões. E não se cansou enquanto não criou soluções para muitos dos problemas enfrentados diariamente por pessoas que, assim como seu filho, tem a mobilidade limitada. Depois de um ano pesquisando todos os tipos de dificuldade enfrentadas por elas, não só criou uma linha de roupas que tivesse soluções criativas e práticas, mas conseguiu fazer com que uma grande marca, a Tommy Hilfiger, as fabricasse. E, portanto, além de serem roupas acessíveis no sentido de facilitar o processo de se vestir, eram roupas que todos usam, jeans, calças cáqui e outras. Roupas que não diferenciavam quem as usava. Roupas inclusivas. Uma inspiração. Mindy diz: “envolva-se com pessoas com deficiência e você aprenderá tudo”. À Mindy, toda minha admiração.

 

Nossa, como foi difícil selecionar três grandes temas para escrever. Por algumas horas me senti de volta em Austin, tendo que decidir as palestras do dia.

Depois de pensar e repensar sobre tudo que passou, conversar com outras pessoas, participar de eventos pós SXSW, entendi que cada um faz o seu festival e relata a partir de sua própria perspectiva e experiência. E a graça toda está aí! Espero que tenham gostado.

No meu Instagram (@adrianafarhat) e da Insperiência (@insperiencia) fiz uma cobertura dos dez dias de evento e salvei nos destaques. Assim, vai encontrar mais do que ouvi falar e do que vi também. Te convido a passar por lá, deixei referências das pessoas e empresas que mencionei para que busquem mais informações. Aliás, te convido a mandar sua opinião sobre este artigo e também perguntas/observações sobre os temas para discutirmos um pouco mais. Obrigada!

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